Marçal usa agressão de Datena para reforçar narrativa de perseguição e é isolado no meio político

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Marçal usa agressão de Datena para reforçar narrativa de perseguição e é isolado no meio político

 Adversários e lideranças da esquerda à direita rejeitaram o rótulo de vítima que o empresário tentou abraçar


© Getty

Porto Velho, RO - O influenciador Pablo Marçal (PRTB) buscou explorar a cadeirada que levou do apresentador José Luiz Datena (PSDB) no debate da TV Cultura no domingo (15) para reforçar a narrativa de que é um candidato perseguido pelo sistema.

Adversários e lideranças da esquerda à direita rejeitaram o rótulo de vítima que o empresário tentou abraçar. Apesar das críticas à atitude de Datena, lembraram as provocações de Marçal e sugeriram que ele também teve responsabilidade sobre o desfecho do episódio.

O influenciador provocou Datena reiteradamente nos blocos anteriores à agressão ao resgatar uma denúncia de assédio sexual contra o apresentador e chamá-lo de "Jack", gíria comum nos presídios para se referir a estupradores. Após a cadeirada, Datena foi expulso, e Marçal decidiu deixar o debate e seguir para o Hospital Sírio-Libanês, de onde teve alta na manhã desta segunda-feira (16).

Nota enviada pela assessoria de imprensa de Marçal na noite de domingo dizia que o influenciador havia deixado o local às pressas, em uma ambulância, para ser atendido em caráter emergencial. "Pablo Marçal está ferido, com suspeita de fraturas na região torácica e muita dificuldade para respirar", dizia o texto.

Imagens feitas no estúdio mostram que Marçal seguiu de pé e continuou a provocar Datena após a agressão. O candidato do PRTB deixou o local caminhando e, segundo sua assessoria, chegou a entrar em seu carro para ir ao hospital, mas acabou optando pela ambulância que estava à disposição no teatro B32, na avenida Faria Lima, onde foi realizado o debate.

Áudio revelado pela Folha de S. Paulo mostrou que Marçal indicou que seguiria no debate após a agressão, mas depois mudou de ideia.

O influenciador explorou o episódio em suas redes e publicou um vídeo de seu deslocamento de ambulância ao som de sirenes. Ele aparece deitado em uma maca, com a cabeça sobre uma caixa de luvas, respirando sob uma máscara de oxigênio solta. A gravação mostra sua equipe agitada, imprimindo um caráter de urgência ao episódio. Nos comentários, usuários do Instagram falam em "exagero", "sensacionalismo" e "ceninha de filme".

Boletim médico do hospital informou que Marçal teve "traumatismo na região do tórax à direita e em punho direito, sem maiores complicações associadas".

Na última semana, pesquisa Datafolha mostrou que seu crescimento estava estagnado e que sua rejeição havia avançado seis pontos percentuais em uma semana. Na sexta-feira (13), Marçal chegou a afirmar que esperava "a maior baixaria de todos os tempos" no debate.

Ao fim do evento, os demais candidatos à Prefeitura de São Paulo lamentaram a agressão de Datena, mas atribuíram aos dois envolvidos a responsabilidade sobre o ocorrido. Guilherme Boulos (PSOL) afirmou que Marçal provocou o apresentador e comparou o ataque ao episódio da bolinha de papel que atingiu José Serra (PSDB), em 2010, quando o ex-senador concorria à Presidência da República.

Marina Helena (Novo), que nos debates anteriores manteve relação amistosa com o autodenominado ex-coach, disse não ser possível comparar o ataque com a facada contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha de 2018. Tabata Amaral (PSB) afirmou que os adversários não deveriam se preocupar em responder as provocações do influenciador.

Em vídeo publicado nas redes sociais na madrugada, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que segurou Datena em meio à agressão, afirmou que a ação do apresentador foi errada, mas que ele foi provocado por Marçal de forma "absurda".

O emedebista, que disputa com o empresário os votos da direita, chamou o influenciador de "irresponsável" e "moleque", afirmou que seu comportamento é "terrível" e disse que ele não tem a "mínima condição" de ser prefeito.

O debate de domingo transcorreu sob regras mais rígidas, motivadas pela pressão dos candidatos, que afirmam que Marçal descumpriu acordos em encontros anteriores e que não foi punido. A queixa é de que o influenciador utiliza os embates como palanque e ofusca a discussão de propostas.

Nesta terça-feira (17), às 10h20, haverá novo debate promovido pela RedeTV! e pelo UOL. Tanto a campanha de Marçal quanto a de Datena afirmaram que a agenda está mantida. A equipe do influenciador disse, porém, que fez "algumas reivindicações diante do ocorrido lamentável" no encontro de domingo.

Entre a madrugada de domingo e a tarde de segunda-feira, Marçal publicou 26 conteúdos no Instagram sobre a agressão. Um dos primeiros foi uma montagem com três vídeos simultâneos: um da cadeirada no debate, outro do tiro que atingiu Donald Trump, que tenta voltar à Presidência dos Estados Unidos, e um terceiro da facada desferida contra Bolsonaro em 2018.

A comparação irritou o entorno do ex-presidente, que oficialmente apoia Nunes e que tem mantido uma relação de morde e assopra com o influenciador. Pela manhã, o canal Bolsonaro TV, que replica conteúdos favoráveis ao ex-mandatário nas redes sociais, publicou um vídeo com imagens das provocações de Marçal e da agressão de Datena, com os dizeres: "Reflita e responda... Foi tudo planejado?".

O mesmo conteúdo foi parar na lista de transmissão do WhatsApp do pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro que tem feito uma série de ataques contra o influenciador, especialmente depois que ele chegou ao final da manifestação do 7 de Setembro, na avenida Paulista, e tentou subir no carro de som.

Malafaia publicou mais um vídeo contra Marçal nesta segunda, afirmando que o influenciador montou uma farsa para tirar proveito do episódio. Na gravação, o pastor afirma que o empresário "adora se vitimizar" para manipular as pessoas e que a tentativa de comparar a cadeirada com os atentados contra Trump e Bolsonaro é um "deboche".

Malafaia diz ainda que a equipe de Marçal fez um "show de pirotecnia" na ambulância para "dar ar de gravidade" ao caso. "Não é possível você continuar a ser manipulado por esse psicopata", afirma o pastor.

Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro que está envolvido na campanha de Nunes, também responsabilizou Marçal nas redes. "Datena defende sua honra e sua família em rede nacional, após nova tentativa de recorte malicioso. Erra quanto à proporcionalidade. Tudo lamentável."

Na manhã de segunda, em live nas redes sociais, o influenciador se referiu à cadeirada como "tentativa de homicídio". Boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil por seu advogado, Tassio Renam, identifica o caso como lesão corporal e injúria.

Ao deixar o hospital na manhã de segunda, Marçal afirmou que "a culpa é sempre de quem é agredido no país" e disse que a imprensa relativizou o episódio. "Quero dar os parabéns à maior parte da imprensa, que está passando pano."

Antes, em vídeo gravado no quarto de hospital, o influenciador disse que ficou impressionado com o fato de que nenhum dos candidatos manifestou solidariedade após a agressão.

Nota assinada por Marçal, enviada pela assessoria de imprensa, afirma que se o autor da cadeirada fosse "pobre, negro e de periferia" estaria preso.

Fonte: Notícias ao Minuto

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