O ministro da Fazenda está incomodado e, na ambiguidade, recordando uma época em que "éramos felizes e não sabíamos"
Porto Velho, RO - O ministro Fernando Haddad está incomodado. Não deixa claro se a amolação é com Lula, um presidente preocupado em reafirmar seu poder a cada dia e que, aparentemente, se diverte tanto com as reações às suas impropriedades retóricas quanto com as crises estimuladas no Palácio do Planalto.
Lula fulminou a ideia de “déficit zero” com cinco palavras: “A gente não precisa disso”. Foi na sexta-feira (27/10), quando completou 78 anos (dezenas de convidados estiveram no Palácio da Alvorada para saudá-lo, ele passou de carro, acenou pela janela e seguiu.)
Pode-se achar que foi realista sobre o “déficit zero”, mas, na essência, foi contraditório. Lula apresentou-se na campanha do ano passado como fiador de um governo supostamente empenhado na busca do equilíbrio fiscal perdido há décadas, até para “pôr os pobres no orçamento”. Por enquanto, a maioria pobre continua onde sempre esteve — à distância da lista de prioridades nos gastos públicos.
Se não gosta ou não quer meta de “déficit zero”, poderia ter poupado o ministro da Fazenda liquidando o plano no início do governo, mas deixou fluir negociações com o Congresso sobre o equilíbrio fiscal e o orçamento durante dez meses. Nesse período, o mundo ganhou uma nova guerra, no Oriente Médio, e o principal mercado do Brasil na América do Sul, a Argentina, entrou em colapso.
Lula atropelou Haddad numa crise inútil, porque desnecessária. Diante das reações, apelou à sua portavoz informal para circunstâncias inconvenientes, a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Ao repórter Guilherme Pimenta, ela deu uma interpretação curiosa ao contrapor a sensatez de Lula à do ministro da Economia: “[Lula] chamou para si a responsabilidade, inclusive para manter a responsabilidade do governo.”
O efeito prático foi a semeadura de desconfiança sobre a consistência do projeto econômico do próprio governo. E isso, por óbvio, tem custo político e econômico.
Haddad não costuma vazar insatisfação. Nesta segunda-feira, porém, mostrou-se exasperado com jornalistas que lhe perguntaram sobre o assunto.
Habituado à ambiguidade, também não indicou se a gênese da amolação está na atitude de parte da cúpula do Partido dos Trabalhadores que decidiu atrelar sua expectativa de poder à desidratação do ministro da Fazenda na condução da política econômica.
O clima ficou tenso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), julgou necessário recomendar ao governo “seguir a orientação e as diretrizes do ministro da Fazenda”. Acrescentou: “Ir na contramão disso colocaria o país em rota perigosa.”
À noite, em Brasília, Haddd foi comer um sanduíche com assessores e Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Banco Central. “Este país está pelo avesso”, disse ao passar por uma mesa no jardim do restaurante. Mencionou uma época em que “éramos felizes e não sabíamos”. Pela ambiguidade, a referência abrange os últimos 34 anos de regime democrático — em 44% dessa linha do tempo o PT governa o país.
Lula fulminou a ideia de “déficit zero” com cinco palavras: “A gente não precisa disso”. Foi na sexta-feira (27/10), quando completou 78 anos (dezenas de convidados estiveram no Palácio da Alvorada para saudá-lo, ele passou de carro, acenou pela janela e seguiu.)
Pode-se achar que foi realista sobre o “déficit zero”, mas, na essência, foi contraditório. Lula apresentou-se na campanha do ano passado como fiador de um governo supostamente empenhado na busca do equilíbrio fiscal perdido há décadas, até para “pôr os pobres no orçamento”. Por enquanto, a maioria pobre continua onde sempre esteve — à distância da lista de prioridades nos gastos públicos.
Se não gosta ou não quer meta de “déficit zero”, poderia ter poupado o ministro da Fazenda liquidando o plano no início do governo, mas deixou fluir negociações com o Congresso sobre o equilíbrio fiscal e o orçamento durante dez meses. Nesse período, o mundo ganhou uma nova guerra, no Oriente Médio, e o principal mercado do Brasil na América do Sul, a Argentina, entrou em colapso.
Lula atropelou Haddad numa crise inútil, porque desnecessária. Diante das reações, apelou à sua portavoz informal para circunstâncias inconvenientes, a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Ao repórter Guilherme Pimenta, ela deu uma interpretação curiosa ao contrapor a sensatez de Lula à do ministro da Economia: “[Lula] chamou para si a responsabilidade, inclusive para manter a responsabilidade do governo.”
O efeito prático foi a semeadura de desconfiança sobre a consistência do projeto econômico do próprio governo. E isso, por óbvio, tem custo político e econômico.
Haddad não costuma vazar insatisfação. Nesta segunda-feira, porém, mostrou-se exasperado com jornalistas que lhe perguntaram sobre o assunto.
Habituado à ambiguidade, também não indicou se a gênese da amolação está na atitude de parte da cúpula do Partido dos Trabalhadores que decidiu atrelar sua expectativa de poder à desidratação do ministro da Fazenda na condução da política econômica.
O clima ficou tenso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), julgou necessário recomendar ao governo “seguir a orientação e as diretrizes do ministro da Fazenda”. Acrescentou: “Ir na contramão disso colocaria o país em rota perigosa.”
À noite, em Brasília, Haddd foi comer um sanduíche com assessores e Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Banco Central. “Este país está pelo avesso”, disse ao passar por uma mesa no jardim do restaurante. Mencionou uma época em que “éramos felizes e não sabíamos”. Pela ambiguidade, a referência abrange os últimos 34 anos de regime democrático — em 44% dessa linha do tempo o PT governa o país.
Fonte: Veja
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