“A gente busca contar a história dessas pessoas desse período da colonização, das pessoas que não foram percebidas, contadas ou significadas pela História oficial. A gente tem que lembrar que esse processo de colonização as vezes é muito bonito: 'nossa a Estrada de Ferro, que bonito, que moderno'. Mas a que custo esse projeto foi levado pra frente? E depois que as obras vão embora, o que fica?', ressalta a professora e coordenadora da escavação, Juliana Santi.
“Quando você fala de Candelária as pessoas associam diretamente ao cemitério que é o que tem visitação. O cemitério, na verdade, é uma consequência do hospital que estava instalado ali, mas o hospital acabou ficando esquecido”, destaca Juliana.
O que é o Hospital da Candelária?
Construído por volta de 1907, o Hospital da Candelária tinha o objetivo de acomodar os primeiros doentes que trabalhavam na construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. O hospital foi montado entre os municípios de Santo Antônio e Porto Velho.
A professora doutora, Mara Genecy Centeno Nogueira, na tese "Entre Categas e Mundiças: Territórios e Territorialidades da Morte na Cidade de Porto Velho" explica a ligação entre a EFMM e o hospital.
"O Hospital da Candelária ao ser concluído tornou-se o mais moderno da região e foi bastante elogiado pelo médico Oswaldo Cruz durante a sua visita de inspeção sanitária a Santo Antônio e a Porto Velho. As instalações do hospital chamavam atenção de todos que o visitavam em decorrência das suas dependências arejadas e algumas teladas, pelo equipamento moderno, pela condição de assepsia", consta na tese de Centeno.
O hospital ficou ativo até aproximadamente 1930, quando foi desativado. Depois disso, ações humanas e do próprio tempo fizeram com que a estrutura ficasse em ruínas, praticamente soterrada.
Qual a importância da escavação?
Ao lado do Hospital da Candelária, fica o cemitério homônimo, tombado como patrimônio histórico de Rondônia. Segundo a professora Juliana Santi, a evidência da estrutura do Hospital da Candelária serve como uma forma de reparar um “apagamento”- intencional ou não - que ele sofreu ao longo dos anos.
“Quando a gente fala de estrada de ferro geralmente a gente vai entrar nos grandes nomes: os engenheiros, as enfermeiras... não que eles não sejam importantes, mas a gente acaba deixando de lado as outras pessoas que trabalharam. [..] Em muitos relatos a gente vê que eles [os trabalhadores] chegavam aqui fugindo de guerra ou fome, muitas vezes com uma propaganda de que poderia fazer uma vida melhor, e eles chegam aqui, muitos deles morrem e são enterrados aqui e a família nunca mais tem conhecimento deles”.
O que a pesquisa pode se tornar?
Ainda de acordo com Juliana, o objetivo final do projeto é de que a rota do hospital seja incluída no turismo do estado de Rondônia.
“Quando houve a tentativa de tombar os espaços, tombou-se o cemitério como patrimônio histórico, mas não as ruínas do hospital justamente porque não houve um estudo para mostrar que as ruínas estavam ali. Agora a gente vai mostrar que elas são um sítio arqueológico, ou seja, são de interesse histórico”.
Fonte:g1/RO
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