Putin quer mísseis nucleares perto da Otan e 'torpedo do Juízo Final' no Pacífico

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Putin quer mísseis nucleares perto da Otan e 'torpedo do Juízo Final' no Pacífico


Aumento da retórica atômica tenta conter ajuda do Ocidente à Ucrânia na guerra

Porto Velho, RO - Em meio ao aumento da retórica nuclear de Vladimir Putin para tentar conter o apoio do Ocidente à Ucrânia, a Rússia anunciou que colocará mísseis nucleares na Belarus perto das fronteiras do país com a Otan e que planeja iniciar as operações do "torpedo do Juízo Final" no Pacífico talvez já no ano que vem.

A previsão de posicionar mísseis táticos Iskander na Belarus foi anunciada na semana retrasada pelo líder do Kremlin, em um movimento largamente simbólico: se quiser usar armas nucleares na Europa, o alcance de seus mísseis em casa é mais do que suficiente.

Soldados com míssil tático Iskander, que pode levar ogiva nuclear e será posicionado na BelarusSoldados com míssil tático Iskander, que pode levar ogiva nuclear e será posicionado na Belarus

Mas armas táticas são destinadas a ataques pontuais, teoricamente de emprego mais possível do que no caso das estratégicas, que visam ganhar guerras, e a proximidade das fronteiras tem dois motivos.

Um é absorver ainda mais a Belarus ao chamado Estado da União, uma aliança existente com a Rússia que o ditador local, Aleksandr Lukachenko, nunca quis ver aprofundada para não perder poder. Desde que protestos inéditos contestaram sua posição em 2020, contudo, ele está no colo de Putin.

Após integrar suas Forças Armadas em diversos níveis com as de Putin, Lukachenko busca um peso militar novo ante a Polônia, país que tem um histórico de rivalidade e questões com os belarussos. Ele já havia pedido as armas atômicas antes mesmo da guerra de 2022 e conseguiu em agosto um acordo para que bombardeiros táticos Su-24 do país fossem adaptados para eventualmente empregá-las.

Aí entra o fator central: Putin sinaliza ao Ocidente que está disposto a aumentar o risco de um confronto com a aliança militar ocidental. Mas o faz de forma escalonada, ao dizer que só terá instalações nucleares na Belarus a partir de julho, sem citar quando as armas em si chegariam.

Isso dá tempo para eventuais respostas políticas do Ocidente, notadamente algum controle na escalada recente de apoio militar a Kiev. Neste ano, países da Otan romperam dois grandes tabus, vigentes para evitar provocar demais os russos: os envios de tanques e caças.

Já há ao menos 31 modelos alemães Leopard-2 e 14 britânicos Challenger-2 em mãos ucranianas, e nesta segunda (3) a Polônia disse ter enviado o primeiro lote de caças MiG-29 que prometeu para Kiev —a Eslováquia já entregou ao menos quatro desses aparelhos soviéticos já usados pela Ucrânia.

Belarus faz fronteira com a Ucrânia ao sul, Rússia a leste e tem 1.250 km de contato com a Polônia, Lituânia e Letônia, todas membros da Otan, a oeste. O anúncio de que as forças nucleares ficarão perto dessa região foi feito no domingo (2) pelo embaixador russo no país, Boris Grizlov, à TV belarussa.

"Expandiremos nossa capacidade de defesa, e isso será feito apesar do barulho na Europa e nos EUA", afirmou. Mesmo sem participar da guerra com tropas, Belarus permite o uso de seu território pelos russos.

Nesta segunda, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, buscou minimizar um pouco a crise, dizendo que "não notou nenhuma mudança na atitude nuclear" russa.

De sua parte, o Kremlin segue com a pressão. A agência estatal Tass publicou reportagem também nesta segunda afirmando que o temido "torpedo do Juízo Final" estará operacional no final de 2024 ou no primeiro semestre de 2025 e que será empregado em submarinos postados na península de Kamtchatka.

Localizada no Extremo Oriente russo, ela é uma das bases russas no Pacífico, região em que a rivalidade da Guerra Fria 2.0 entre China e EUA tem se mostrado aguda. Washington firmou um pacto militar com Austrália e Reino Unido, o Aukus, uma aliança política com australianos, japoneses e indianos, o Quad, e têm movimentado forças navais, além de alertar Pequim a não investir contra Taiwan.

Os chineses, por sua vez, aprofundaram os laços com a Rússia, como a visita de Xi Jinping a Putin no mês passado demonstrou. Os elos militares também se estreitaram, com patrulhas conjuntas mais frequentes.

O torpedo, conhecido como Poseidon, é uma das cinco "armas invencíveis" que Putin anunciou para olhos céticos em 2018. Enquanto três delas já estão em operação —os mísseis hipersônicos Kinjal e Tsirkon e o planador hipersônico Avangard—, o torpedo parece ter alcançado grau avançado de desenvolvimento.

Ele foi definido como uma nova preocupação estratégica dos EUA na Revisão da Postura Nuclear de Washington em 2022. Pelo que sabe até aqui, ele é um enorme drone autônomo de 24 metros de comprimento que pode atravessar mais de 10 mil km ou mais sem ser percebido a até 130 km/h, o dobro da velocidade de um submarino, graças a um pequeno reator nuclear.

Depois, ao chegar ao alvo, detona uma ogiva de até 2 megatons em áreas costeiras, devastando tudo com um tsunami radioativo. Tudo parecia fantasioso em 2018, mas agora especialistas afirmam acreditar que a ameaça é para valer. O fato de ser posicionado em Kamchatka coloca todos os rivais da China na região, fora os territórios americanos no Pacífico e a Costa Oeste do país, sob sua mira.

No caso dos mísseis, é sabido desde 2018 que os russos têm bases prontas para guardar armas nucleares em Kaliningrado, encrave russo entre a Polônia e a Lituânia. Mas ninguém sabe se de fato eles estão lá. O prazo dado por Putin, de três meses, parece exíguo para que a nova base esteja pronta.

Acerca do torpedo, além de não haver testes conhecidos da arma apesar de Moscou dizer que eles já estão aptos para receber suas ogivas, há a questão do submarino. Para operá-los, a Rússia construiu um modelo especial, o K-329 Belgorodo, que pode levar seis desses enormes drones. Feito de uma casco abandonado da classe Oscar-2 soviética, ele demorou talvez dez anos para ser redesenhado e fabricado.

Exceto que haja outros modelos análogos sendo produzidos sem conhecimento de especialistas, mesmo que a construção agora seja mais rápida, é algo para anos. Assim, só o Belgorodo parece apto a operar o Poseidon por um bom tempo.

Fonte: Folha de São Paulo

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