Viagra: entenda como medicamento gerou revolução social e cultural

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Viagra: entenda como medicamento gerou revolução social e cultural


Nesta segunda (11), foi revelado que as Forças Armadas aprovaram a compra de 35 mil comprimidos do estimulante que chegou às farmácias em 1998

Porto Velho, RO - Todo domingo de manhã, o campo do Seu Luiz, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, está reservado para o Esporte Clube Viagra. Formado por amigos da região, o time amador traz no escudo uma bola de futebol branca com pentágonos azuis, lembrando a embalagem do remédio que lhe dá nome. A explicação do batismo é simples: “todo mundo achou engraçado”, conta o serralheiro e goleiro Claudio Ramos, 37 anos. Perguntado se os adversários acham graça, ele nega.

— A turma leva na boa. No churrasco depois do jogo tem sempre um contando que usou — ele diz, e emenda a brincadeira. — Hoje, tomar Viagra é como tomar aspirina.

O time não é único no Rio: há outro Esporte Clube Viagra, em Nova Iguaçu; o Viagra Futebol Clube, em Volta Redonda; e ainda o Viagra da Pavuna, Zona Norte da capital. O Google ainda revela dezenas de outras “homenagens” Brasil afora, sinal de duas coisas:

1) Boleiros não são piadistas muito originais.

2) Se não é “como tomar aspirina”, o uso da pílula azul, ao menos, deixou de ser tabu.

Muita coisa mudou desde 1996, quando o remédio pioneiro do laboratório Pfizer para disfunção erétil foi parenteado nos Estados Unidos. Vinte anos e bilhões de comprimidos depois, o Viagra é um marco na história da medicina. Mas não só. Ao prolongar a vida sexual de uns — e turbinar a de outros —, ele e seus concorrentes tiveram um impacto social e cultural tremendo.

— Foi uma revolução — diz o psiquiatra e educador Jairo Bouer, que acompanhou a mudança de perto quando tirava dúvidas sobre sexo no auge da MTV Brasil. — Algo equivalente ao que a pílula trouxe para vida das mulheres.

130 milhões em ação

Originalmente criado para combater a angina, o citrato de sildenafila, princípio ativo do Viagra, foi aprovado para uso nos Estados Unidos em 27 de março de 1998. Primeiro tratamento oral para impotência, ele bombou assim que chegou às farmácias americanas, em abril daquele ano. Dois meses depois, em junho, já era comercializado no Brasil.

Detalhe: se nos EUA os remédios para disfunção erétil são vendidos sob prescrição médica, no Brasil eles dispensam receita — e são mais baratos do que uma passagem de ônibus. Enquanto um comprimido de Viagra 50 mg custa em torno de R$ 20, uma versão genérica sai por menos de R$ 3. Nesta segunda-feira (11), foi revelado que as Forças Armadas aprovaram a compra de mais de 35 mil unidades do medicamento.

Camisinhas para homem


Usadas desde a Antiguidade, com materiais variados, no século XX passam a ser feitas de látex. Foram “abandonadas” nos anos 1960, com a chegada da pílula anticoncepcional, mas depois reabilitadas com a explosão de DSTs e a epidemia da Aids, nos anos 1980.

Camisinhas para mulheres

Surgido nos anos 1980, o preservativo feminino é uma versão maior do masculino e chegou ao mercado para “incluir” as mulheres no mundo dos preservativos. O desconforto alegado por elas, porém, fez com que ele não “pegasse”.

Diu


O dispositivo intrauterino (DIU), pequenino objeto inserido no útero para agir como contraceptivo, é considerado por muitos o protagonista de uma segunda revolução sexual para as mulheres. Além da alta eficácia, um de seus modelos, o de cobre, não faz uso de hormônios.

Prótese


Usada como último recurso para restaurar a ereção, é colocada com cirurgia e prolongou a vida sexual de muitas gerações desde os anos 1970. Pode ser maleável ou inflável, acionada por uma bombinha.

Vibrador


As primeiras geringonças, do século XIX, eram usadas para tratar mulheres supostamente histéricas. Hoje, ele vem em vários formatos e amplia os horizontes de gente de qualquer gênero ou preferência sexual.

Pílula para antes...

A pílula anticoncepcional, aprovada para uso nos EUA em 1960, deu às mulheres mais liberdade na vida sexual e virou um símbolo do espírito livre e revolucionário daquela década.

...e pílula para depois

Criada nos anos 1970, a chamada “pílula do dia seguinte”, que deve ser tomada até 72 horas após o sexo, popularizou-se na década passada. Além de ser um “plano B” caso outros métodos falhem, virou um trunfo para casos de abuso sexual.

Desde 1998, a Pfizer diz que já vendeu 130 milhões de suas pílulas azuis no Brasil. Segundo a estimativa de um especialista do setor, só no ano passado 50 milhões de comprimidos para ereção (de diferentes marcas) foram vendidos no Brasil — um para cada dois homens brasileiros.

Nestes 20 anos, mudou também a rotina nos consultórios, como lembra Carlos Da Ros, chefe do Departamento de Sexualidade e Reprodução da Sociedade Brasileira de Urologia:

— Antes, o cara vinha para a revisão geral e, só se o médico perguntasse sobre sua vida sexual, ele dizia “tem uma coisinha me incomodando”. Hoje, ele mesmo fala sobre ereção. Muitos chegam pedindo remédio, cabe ao médico explorar outras possibilidades.

As possibilidades, aliás, ficaram mais claras com a ajuda involuntária dos próprios pacientes, diz a sexóloga Carmita Abdo, coordenadora geral do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da USP. Segundo ela, sabe-se muito mais sobre a saúde do homem desde que ele passou a ir aos consultórios para resolver a impotência.


Farmácia na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, na data de lançamento do Viagra, em 1º de junho de 1998 Foto: Carlos Ivan -1/6/1998 / Agência O Globo

Novo velho homem

Uma vez “potente”, no entanto, esse sujeito pode ser disruptivo. Estudos do ProSex mostram que homens que não tinham o hábito de usar camisinha não o adquirem após recuperar a ereção — nem nos relacionamentos oficiais nem nos externos. Resultado: aumento de DSTs.

Aos 66 anos, Geraldo Lúcio Souza, representante comercial de Além Paraíba, em Minas Gerais, conta que há uma década usa remédios contra impotência — “para não passar vergonha com as namoradas”. Após buscar acompanhamento médico, ele varia entre Viagra, Levitra (da Bayer) e Cialis (da Lilly) baseado em seu próprio empirismo (“observei que o corpo cansa de um remédio, aí eu troco”). Apesar de reclamar de alguns efeitos colaterais, como dor de cabeça e certa sonolência, ele não cogita interromper o uso dos medicamentos.

— A alternativa é injeção. E aquela parte do corpo não existe para ser espetada, mas para espetar — brinca Souza, confirmando que o assunto é parte do seu cotidiano. — Em roda de bar há sempre o “garganta” que diz que não precisa. Digo com a maior naturalidade que uso, me faz bem e recomendo. Vários já vieram pegar informação.

A recomendação, claro, é consultar um médico. Mas o fabricante reconhece que isso nem sempre acontece.

— Sabemos que existe compra sem prescrição médica, pois nossa legislação permite — diz Eurico Correia, diretor médico da Pfizer no Brasil. — Mas a empresa sempre se posicionou contra e não vê com bons olhos o uso recreativo.

E é aí que a coisa se complica, e o emocional também.

— Dificilmente um garoto de 20 anos precisa usar, mas muitos fazem por garantia e criam uma dependência psicológica — conta Jairo Bouer. — O ideal é entender a sua ansiedade e não depender de remédio para dar conta do recado.

Hora do recreio?

Outro comportamento que encuca especialistas é o dos “festeiros” que inventam “coquetéis” com anfetaminas, álcool e outras drogas — e, para não falhar, Viagra.

— Além de arriscada, a interação entre substâncias faz com que a mistura não dê o efeito desejado — diz Bouer.

O primeiro garoto-propaganda do Viagra foi Bob Dole, político americano então septagenário e com o braço direito paralisado. Hoje, a publicidade espontânea é feita por nomes mais aspiracionais. No Brasil, o cantor Zezé Di Camargo, o empresário Robeto Justus e o ator Marcos Pasquim são alguns dos que se manifestaram positivamente sobre o produto.

É sabido que atores pornô usam Viagra para otimizar seu desempenho e acelerar a recuperação entre as cenas. Clayton Nunes, dono da produtora Brasileirinhas, maior do gênero no país, comenta:

— Não estimulamos o uso de medicamentos para ereção. Mas, coincidentemente, depois dessa invenção os atores pornô melhoraram muito a performance...


Fonte: O Globo

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