Brasileiros que moram na Rússia contam como estão vivendo a guerra

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Brasileiros que moram na Rússia contam como estão vivendo a guerra


Uma brasileira que tem um filho estudando na Rússia pede dicas sobre como enviar dinheiro para ele agora que esse país foi bloqueado do sistema Swift.

Porto Velho, RO - A pergunta foi postada em um grupo de brasileiros no Facebook que tem quase 10 mil membros e vários deles moram na Rússia.

Em outra mensagem, um brasileiro pergunta se o grupo acredita que é momento de deixar a Rússia por conta da invasão na Ucrânia que já leva uma semana.

"As pessoas estão vivendo a sua vida normalmente aqui, mas sinto que estão um pouco mais tensas. Há uma sensação de leve temor no ar", conta Bruno Freitas à BBC News Brasil.

O goiano mora na Rússia há 11 anos e diz que nenhuma guerra é algo bom de se viver.

"É triste ver que essa situação não foi resolvida pelas vias diplomáticas. Russos e ucranianos, no fundo, são o mesmo povo e têm uma grande história em comum", explica.

Quem compartilha a mesma opinião é o brasileiro Cesar Dantas que vive há dois anos no país.

"Para os russos, os ucranianos são como irmãos. Por isso estão tristes e preferiam que isso não tivesse acontecido. Existem muitas famílias que têm parentes ucranianos e vice-versa", diz.

Cesar deixou o Rio de Janeiro e se casou com uma russa.

"Minha esposa mesmo detesta o Putin e tem muitos russos insatisfeitos aqui, principalmente a geração mais nova. Mas também há uma grande parte da população que apoia o seu presidente", conta Cesar que mora na capital da Sibéria.

No grupo do Facebook, a maioria comenta que se sente tranquila morando na Rússia, por enquanto.

Enquanto outros aproveitam para comentar que os preços das passagens para o exterior aumentaram bastante nos últimos dias por conta das proibições recíprocas entre companhias de vários países que deixaram de voar para a Rússia.

Outra brasileira que trabalha como tradutora e prefere não ser identificada, disse à reportagem que em Moscou está tudo aparentemente igual e que a vida segue normalmente.

"A única coisa que realmente mudou nos últimos dias são as filas nos bancos e nos caixas eletrônicos que têm aumentado bastante. Os russos não estão preocupados com que possa cair uma bomba no país. A preocupação deles agora é com a questão financeira mesmo."

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, a moeda do país teve uma desvalorização recorde. Para tentar proteger a economia e segurar essa queda do rublo, o Kremlin lançou um decreto proibindo que residentes transfiram dinheiro para contas no exterior, entre outras medidas econômicas.

"Hoje fui ao banco para ver quanto estava o rublo e o preço estava indecente. Realmente caiu muito nestes últimos dias", lamenta Cesar.

Bruno que mora na região do Cáucaso diz que já começou a perceber um leve aumento nos preços dos alimentos.

"Hoje fiz umas compras na feira e vi que o valor do tomate, por exemplo, subiu. Esse tomate é importado da Turquia e os vendedores justificaram o aumento por conta do conflito", comentou.

O goiano explica que nos últimos dias houve um grupo de pessoas que quis se proteger da queda do rublo e trocou a moeda russa por dólar e euro.

A tradutora diz que conhece várias pessoas estão fazendo um novo cartão de crédito russo, o MIR, por medo de que os internacionais mais conhecidos deixem de funcionar no país.

"Hoje mesmo no metrô já não consegui pagar com o Google Pay, por exemplo. E por incrível que pareça, sabia que a palavra MIR em russo significa mundo e também paz?", conta a brasileira.


'Os russos já estão habituados a viver com as sanções ocidentais. Então, as coisas aqui seguem com normalidade', conta Fany Milanez

Sanções

Cesar explica que os russos estão acostumados a viver com sanções.

"Por um tempo até acho que eles podem sofrer um pouco, mas depois dão um jeito. O caso dos queijos é um bom exemplo: nas prateleiras dos supermercados aqui a gente encontra queijos estilo francês mas que são fabricados na Rússia".

A brasileira que mora no país desde 2009 concorda e diz que os russos estão acostumados a passar por períodos difíceis.

"Acredito que até por isso tenho notado esse conformismo nos russos com relação ao conflito. Geralmente, só os mais jovens são os que fazem parte de um movimento contra a guerra aqui. Esse é o grupo que tem ido nas manifestações", reflete.

Ela conta que em 2014, quando a Rússia invadiu a Crimeia, como efeito negativo naquela época não havia tanta variedade de produtos estrangeiros nos supermercados. Por isso acha que agora poderia acontecer a mesma coisa, por conta das sanções internacionais.

"Eu percebi que os russos já aprenderam a lidar com as sanções. Se o confronto continuar, acho que em um primeiro momento pode ser um pouco mais complicado, mas logo eles encontram mecanismos para lidar com isso", acredita.

Fany Milanez também é brasileira e mora na Rússia, na cidade de Krasnodar há um ano.

"Os russos já estão habituados a viver com as sanções ocidentais. Então, as coisas aqui seguem com normalidade. Não vi nada estranho nas ruas", relata a pernambucana.

Redes sociais e censura

Bruno conta que atualmente há uma limitação de velocidade do Facebook na Rússia mas que essa não é a principal rede social usada no país.

"O que tem acontecido nos últimos dias é uma tentativa do governo russo de limitar o acesso de publicidade paga contra a guerra, que é organizada por grupos ocidentais. O governo de Vladimir Putin exigiu que essas propagandas fossem retiradas, mas como isso não aconteceu, limitou a velocidade dessa rede social aqui no país, mas não a bloqueou", explica.

Os brasileiros que moram na região dizem que não existe um bloqueio de informação na Rússia.

"As pessoas têm acesso à mídia russa que está a favor, quanto a mídia russa que está contra este conflito. Os meios de comunicação russos falam de 'operação militar especial', esse é o termo oficial para se falar da atual situação com a Ucrânia", compartilha o goiano.

"Temos uma grande variedade de canais de notícias disponíveis, inclusive redes internacionais que são contra o Putin. Assim como também temos canais russos, a maioria estatais, que noticiam a guerra desde uma perspectiva pró-Rússia", explica a tradutora.

Fany diz que o ocidente bloqueou o acesso aos meios russos, mas, por outro lado, estando na Rússia ela tem acesso a todos os meios estrangeiros.

"Acompanho coisas daqui, do Brasil, da Ucrânia, da Europa e até mesmo da TV americana."


'Tem muitos russos insatisfeitos aqui, principalmente a geração mais nova. Mas também há uma grande parte da população que apoia o seu presidente', afirma Cesar Dantas

Futuro incerto

Em Moscou, sobre a sua rotina desde que a invasão da Ucrânia começou, a brasileira diz que a única coisa que mudou é que agora tem evitado pegar metrô em hora pico e frequentar lugares mais cheios porque tem medo de que a Rússia possa sofrer algum atentado como represália.

Bruno acha que este conflito também repercute negativamente no povo russo, nos cidadãos que não tem nada a ver com a guerra.

"Já ouvi casos de caminhoneiros russos que sofreram retaliações na Polônia e até mesmo de restaurantes na Europa que escreveram cartazes dizendo que não servem comida para russos. Acredito que tudo isso acaba levando a uma aversão aos russos, independente da posição política que tenham", reclama.

A tradutora concorda e diz que ouviu casos de universidades americanas que estão expulsando estudantes russos pelo simples fato de serem desse país.

"Acredito que essa 'russofobia' vai aumentar e o pessoal mais jovem é quem acaba pagando o pato por algo que nem sequer escolheu", lamenta.

Cesar acredita que este conflito só vai terminar quando Putin conseguir o que deseja, enquanto as brasileiras entrevistadas pela BBC não querem arriscar um palpite.

Fany diz que prefere seguir acompanhando os fatos deste conflito e que torce para que isso acabe rápido.

"Eu e meu marido, que é russo, somos um casal internacional que só quer paz para viver."

A tradutora teme que se o confronto não acabar logo e as sanções continuarem, a economia russa poderia piorar.

"Eu realmente gosto de morar aqui. Me sinto segura, o país é culturalmente rico e a qualidade de vida é boa. Mas se a economia cair muito, aí eu terei que decidir se continuo morando aqui ou não", pondera.

Fonte: BBC News


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