A representatividade artificial de mulheres nos espaços de poder

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A representatividade artificial de mulheres nos espaços de poder


Dia Internacional da Mulher e a reflexão que precisa ser feita

Porto Velho, RO
-  Dia 8 de março é considerado o Dia Internacional das Mulheres, data em que os direitos arduamente até então conquistados são celebrados, assim como se chama atenção para os graves tipos de violências que ainda assolam mulheres de todo o mundo.

Não se discute que mulheres ainda são vítimas de violências cruéis e que se expressam das mais variadas formas. Entretanto, o que se pretende chamar atenção no presente artigo é para um tipo de violência perversa que, infelizmente, tem estado cada vez mais presente nos espaços institucionais de poder, onde muitas vezes há a aparência de uma preocupação com os direitos das mulheres, mas, em verdade, o que ocorre são representatividades artificiais para mascarar um cenário de atropelamentos de mulheres que “ousam” discordar ou questionar a gestão institucional.

Esse tipo de violência ocorre principalmente através do fenômeno chamado de tokenismo, instituto que não é exclusivo do grupo de mulheres, podendo estar presente também em outros grupos vulneráveis, mas cuja análise na presente exposição será feita focada na situação das mulheres. O tokenismo ganha espaço a partir do momento em que as vozes não podem ser mais contidas, havendo necessidade de representatividade das mulheres nos espaços de poder.

As instituições passam a ser cobradas sobre a presença de mulheres na composição de seus cenários, e, objetivando dar uma resposta social para tal situação, colocam mulheres em determinadas posições estratégicas, e tais mulheres passam a atuar – de forma consciente ou inconsciente – na invalidação do discurso das demais que apontam a existência de barreiras.

O que acontece, de fato, é apenas uma inclusão simbólica, superficial e artificial para dar uma aparência de igualdade de gênero dentro da instituição e para mostrar à sociedade que “ali é um local que prega a diversidade”. Entretanto, uma análise institucional mais profunda mostrará as graves violações de direitos das mulheres que lá ocorrem, mormente daquelas que não se enquadram nos perfis dóceis e questionam os abusos cometidos.

As mulheres que são estrategicamente colocadas como tokens geralmente mostram desinteresse em questionar as violações de gênero ocorridas e atuam enquanto instrumento de invisibilização das outras mulheres que fogem do perfil esperado pela gestão patriarcal e machista.

Se um homem disser que não existe machismo dentro da instituição, provavelmente ele será rotulado de machista; mas se uma mulher que ocupa uma posição estratégica de poder dentro da instituição assim o fizer, então há muito mais chances do seu discurso ser considerado verídico.

Dentro deste cenário ocorre também aquilo que é denominado de caráter reflexivo da discriminação: a discriminação pressupõe uma relação de hierarquia entre grupos ou indivíduos, mas ela também pode ocorrer entre membros de um mesmo grupo. 

Algumas pessoas integrantes do grupo vulnerável (no caso, as mulheres que foram colocadas na posição de tokens) internalizam falsas generalizações sobre os membros da comunidade à qual pertencem e passam a tratar a seus semelhantes (no caso, as demais mulheres que apontam as violações de gênero) a partir delas.

Portanto, não basta a presença de poucas mulheres a “representar” a equidade nos espaços de poder. É imprescindível a representação por mulheres que tenham consciência das distorções ocasionadas pelo machismo estrutural, que proponham tais pautas e que sejam capazes de avaliar que a desigualdade de gênero precisa de soluções coletivas e não pontuais.

fonte: Diário Da Amazônia


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