Em meio à consulta pública e à polêmica sobre exigência de prescrição médica, Bolsonaro disse que vacina para criança não é urgente
Porto Velho, RO - O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, na tarde desta sexta-feira (24/12), que as mortes de crianças por Covid-19 não estão em patamar que justifique medida emergencial. Com isso, o mandatário do país repete os argumentos utilizados pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na quinta-feira (23/12).
O chefe do Executivo federal defendeu que a vacinação de crianças precisa ser autorizada pelos pais e só deve ser feita com receita médica.
A vacina é específica para crianças e tem concentração diferente da utilizada em adultos. A dose da Comirnaty equivale a um terço da aplicada em pessoas com mais de 12 anosIgo Estrela/ Metrópoles

Apesar da autorização, o início da vacinação de crianças no Brasil depende da presteza do Ministério da Saúde, uma vez que a pasta é responsável por incluir o público no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e adquirir doses especiaisAline Massuca/Metrópoles

Desde o início da pandemia, 301 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência do coronavírus no paísER Productions Limited/ Getty Images

Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias. Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no público infantil é significativa. Fora o número de morte, há milhares de hospitalizaçõesGetty Images

De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenosVinícius Schmidt/Metrópoles

Contudo, o posicionamento da Anvisa tem causado embate no país. Desde o aval para a aplicação da vacina em crianças, a agência reguladora vem sofrendo críticas de Bolsonaro, de seus apoiadores e de grupos antivacinaHUGO BARRETO/ Metrópoles

Contrariando a decisão da agência, o Ministério da Saúde anunciou a abertura de consulta pública para discutir a aplicação da vacina em crianças. Contribuições devem ser feitas online até 2 de janeiro pelo site https://www.gov.br/saude/pt-br Igo Estrela/ Metrópoles

Frente a esse cenário, as sociedades brasileiras de Imunizações (SBIm), Infectologia (SBI) e Pediatria (SBP) manifestaram-se favoráveis à autorização por entenderem que a imunização é a solução para garantir a saúde das criançasDivulgação/ Saúde Goiânia

De acordo com as SBIm, estudos de fase 1,2 e 3 apontam que crianças de 5 a 11 anos apresentaram resposta de anticorpos neutralizantes similares às observadas em pessoas de 16 a 25 anos, preenchendo os critérios propostos de demonstração de não inferioridadeHugo Barreto/ Metrópoles

Os estudos mostram, ainda, eficácia de 90,7% contra a Covid-19 uma semana após a segunda dose e em um período de 2 a 3 mesesAline Massuca/ Metrópoles

Segundo dados da Pfizer, aproximadamente 7% das crianças que tomaram dose do imunizante apresentaram alguma reação, mas em apenas 3,5% delas esses eventos adversos tinham relação com a vacina. Nenhum deles foi graveIgo Estrela/ Metrópoles

Países como Israel, Chile, Canadá, Colômbia, Reino Unido, Argentina, Cuba e a própria União Europeia, por exemplo, são alguns dos locais que autorizaram a vacinação contra a Covid-19 em criançasGetty Images

Nos Estados Unidos, cerca de 5 milhões de doses já foram administradas no público de 5 a 11 anosbaona/Getty Images
Em 23 de dezembro, o Ministério da Saúde anunciou que a vacinação contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos será liberada a partir do dia 10 de janeiro. No entanto, será necessária a apresentação de prescrição médica para a imunização Rafaela Felicciano/Metrópoles

A Anvisa aprovou, em 16 de dezembro, a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Para isso, será usada uma versão pediátrica da vacina, denominada Comirnatybaona/Getty Images
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“Estão morrendo crianças de 5 a 11 anos para justificar algo emergencial? É pai que decide, em primeiro lugar”, assinalou Bolsonaro, quando questionado sobre a aplicação do imunizante nessa faixa etária. O presidente tem uma filha de 11 anos — Laura.
Queiroga já havia feito declaração semelhante. “Os óbitos de crianças estão absolutamente dentro de um patamar que não implica decisões emergenciais. Ou seja, isso favorece que o ministério possa tomar uma decisão baseada na evidência científica de qualidade, na questão da segurança, na questão da eficácia e da efetividade”, afirmou o ministro na quinta.
De acordo com o titular da Saúde, há “conflitos de interesse” relacionados à liberação da aplicação da vacina da Pfizer/BioNTech em crianças.
Após muita resistência, o Ministério da Saúde informou nesta semana ao Metrópoles que as crianças serão incluídas no plano nacional de imunização contra o coronavírus. No entanto, a pasta deve recomendar que a aplicação da vacina só seja feita com receita médica.
Os estados já reagiram ao anúncio e declararam que não seguirão o governo federal. Ou seja, vacinarão sem fazer essa exigência.
Mortes a cada 2 dias
Apesar das afirmações do ministro da Saúde e do presidente da República, o Brasil registrou 301 mortes de crianças entre 5 e 11 anos em decorrência do coronavírus desde o início da pandemia até o dia 6 de dezembro.
Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias, segundo dados da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19. Esse é o grupo etário para o qual a Anvisa aprovou a aplicação do imunizante da Pfizer na última semana.
Os dados também mostram que 2.978 crianças receberam diagnóstico de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19, com 156 mortes, em 2020. Neste ano, já foram registrados 3.185 novas infecções e 145 falecimentos. No total, o país contabiliza 6.163 casos e 301 óbitos.
Segundo a Conitec, além dos casos de SRAG por Covid-19, até o último dia 27 de novembro, foram confirmados 1.412 casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica associada à Covid-19 em crianças e adolescentes de zero a 19 anos – entre os diagnosticados, 85 morreram.
Consulta pública
Bolsonaro também disse ter participado da consulta pública do Ministério da Saúde sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. O questionário foi disponibilizado, na noite de quinta-feira (23/12), no site da pasta.
“Eu preenchi, como cidadão. Eu dei minha opinião lá”, declarou o presidente durante conversa com a imprensa no Palácio da Alvorada.
Anunciada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a pesquisa, segundo ele, servirá para a população e pais dos menores. A consulta poderá ser acessada no site do ministério até o dia 2 de janeiro.
Fonte: Metropoles
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