'Mandetta me pediu para colocar funerárias em alerta', diz governador do Acre

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'Mandetta me pediu para colocar funerárias em alerta', diz governador do Acre



Porto Velho, RO - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ao lado do ministro da Casa Civil, Braga Netto, em apresentação conjunta do novo modelo de divulgação dos casos de Coronavirus Foto: Dida Sampaio / Estadão

Porto Velho, RO - Por orientação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), ignorou os apelos do presidente Jair Bolsonaro – de quem é aliado político – para retomar as atividades econômicas no Estado. “Mandetta falou para eu me preparar para o pior”, diz o governador, que conversou com o ministro por telefone e ouviu também que deveria colocar as funerárias em alerta.

Cameli decidiu renovar na próxima quarta-feira, 1.º, o decreto restritivo que baixou no Estado. As aulas estão suspensas e assim ficarão por mais 15 dias. No comércio, só entregas em domicílio foram autorizadas. Ele reunirá nesta terça-feira, 31, com a cúpula dos três poderes no Acre, com Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, e mais órgãos de controle, o Ministério Público.

“A economia está abalada, mas eu fiz uma opção. Entre vidas e economia, eu estou por vidas”, explica Cameli sobre o fato de ir contra o que prega Bolsonaro. “Eu determinei que as pessoas fiquem em casa. Estou indo pelas orientações do Ministério da Saúde. Não estou em disputa política com ele, mas não posso me basear nas decisões dele, minha realidade é outra. Não nego que preciso do apoio do governo federal e eles estão dando.”

Nesta segunda-feira, veio a público um áudio em que o governador afirma que o ministro da Saúde lhe orientou a não reabrir o comércio, como incentiva Bolsonaro, e a preparar as funerárias para um cenário extremo. A gravação foi revelada pelo blog de Altino Machado e confirmada pelo Estado. Na reunião com auxiliares, ocorrida no último domingo, dia 29, Cameli afirma que não terá condições de arcar com as consequências da pandemia. O governador diz que não possui recursos de Saúde – nem leitos e nem sequer pessoal médico – e ordena a seus assessores: “Esqueçam a política”.

Cameli conta que telefonou na sexta-feira, dia 27, para tentar marcar uma audiência com Bolsonaro, após o presidente reiterar as falas em prol da adoção de uma estratégia de isolamento parcial dos grupos de risco. Como não conseguiu contato, decidiu se aconselhar sobre o que fazer com Mandetta.

“Eu fiz a seguinte colocação: ‘Ministro, estou querendo ir a Brasília saber o que temos que fazer, porque estou trabalhando para segurar, fechar tudo, pedindo que a população fique em casa, e vem uma declaração do presidente e vai tudo por água abaixo, desautorizando tudo que a gente tem feito para combater esse vírus’. Eu notei ele muito estressado e com razão. O ministro disse que iria conversar com o presidente, que eu estava agindo correto e que eu tinha que me preparar para o pior. É uma epidemia que a gente não pode deixar acontecer para ver o resultado.”

O governador diz que o ministro pediu informações sobre como o Estado se planejava e perguntou se, por precaução, Cameli já havia conversado com donos de funerárias, que também deveriam se mobilizar para um cenário extremo.

“Ele perguntou se eu já tinha conversado com as funerárias, tendo em vista os casos de outros países e que as pessoas não estão acreditando na dimensão do que é o vírus, e não querem ficar em casa. Foi um cuidado. Falou para eu reunir as funerárias para que eles se preparem”, relata Cameli. “Temos que ter a humildade de reconhecer o que é exagero e o que é necessidade. Estou muito preocupado. As pessoas não tem a dimensão do perigo que é o novo coronavírus.”

O Acre tem hoje 34 casos confirmados de covid-19, sendo dois no interior, em Acrelândia e Porto Acre. Projeções otimistas que subsidiam decisões do governador estimam que o Acre terá 86,6 mil pessoas expostas ao novo coronavírus e 678 pacientes hospitalizados que requerem cuidados intensivos. Há, porém, apenas 194 leitos de UTI no Estado, conforme dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.

“Se tivesse que abrir por pressão, eu não iria contra meus princípios. Se der uma epidemia como está se mostrando, que o presidente assuma responsabilidades e venha nos ajudar. A estrutura da Secretaria Estadual da Saúde e das prefeituras não tem com dar suporte às famílias”, afirma Cameli.

O governador estima, porém, que o número de casos real seja duas vezes maior. A subnotificação, segundo ele, ocorre por medo e desinformação. “Tem pessoas que estão com todos os sintomas e não estão fazendo os exames com medo de receber o resultado. Eu soube de quatro casos, não estou blefando”, afirma Cameli.

O governador relata também dificuldades de fazer com que a população cumpra suas ordens de isolamento social por causa do clima de polarização política no Estado. E reclama da influência de Bolsonaro: “O presidente vai para a televisão, mas não explica que está falando uma opinião dele.

Países de primeiro mundo estão voltando atrás. Estou tomando toda a cautela para chamar atenção da sociedade. Não vou para a rua, fico preso em casa, mas o presidente está indo em outra linha totalmente diferente. Não vou colocar em risco vida de pessoas”.

O Acre faz fronteira com Peru e Bolívia e o governador disse não ter dados confiáveis sobre qual a situação nesses países andinos. Segundo ele, nos últimos dias houve confirmação de um caso em Cobija, cidade boliviana de fronteira com Assis Brasil.

Afirmou também que os estrangeiros costumam se socorrer nas unidades de saúde do Estado e que apesar de a fronteira ter sido bloqueada pelas Forças Armadas, não há como garantir que esteja 100% impenetrável. Além disso, voltou a enfrentar dificuldade na assistência social a refugiados venezuelanos e haitianos que ingressam no País pelo Acre.

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